O Simão não é um grande desenhador, nunca foi, nunca mostrou muito interese por desenhos, mesmo quando todos nós nos sentamos para desenhar ou pintar. Até agora, o máximo que fez foi riscos e rabiscos. Para nós isso nunca foi um problema e nunca lhe mostrámos ou dissemos o que deveria fazer ou como fazer. Deixei sempre fluir, à vontade dele, curiosa se algum dia ele iria desenhar. Cheguei a pensar que nunca deixaria de fazer rabiscos, mas mantive-me firme na convicção de que se algum dia fizesse mais do que isso seria por sua vontade e criação.
Cá em casa já todos são crescidos, noutra fase de desenhos e pinturas, e como o Simão não vai a escola, não tem onde ir buscar ideias, não tem quem imitar. Mas esperei, sempre na espectativa do que iria acontecer. Foi quase um estudo científico. Eu queria mesmo saber!
E ontem, do nada, o Simão desenhou "uma mãe com um bebé na barriga"!
Conclusão do meu estudo científico: (tom irónico que eu não tenho feitio nem capacidade de organização para estudos científicos) todos lá chegam! Uns antes, outros depois, mas todos lá chegam! Todas as crianças têm capacidade criativa. E os riscos e rabiscos, e mais tarde a figura humana como o Simão desenhou, estão lá, dentro deles. Todos passam pelas diferentes etapas e nós não precisamos de os ensinar, de fazer para eles copiarem, e eles não precisam de observar as outras crianças a desenhar para poderem aprender. Essa capacidade nasce com eles. Basta que vivam o dia a dia de olhos abertos e curiosidade aguçada, que um dia, do nada, vão passar para o papel tudo aquilo que andaram a observar. E quando o fizerem, já amadureceram, já têm motricidade para isso, sai naturalmente.
E seria tão bom que a escola respeitasse isso, que os deixasse lá chegar, livremente, sem regras, sem tempos, sem imposições.