Gostava de aqui falar deste assunto que muitas vezes se torna um problema para muitas crianças e famílias que é o gosto pela leitura e a sua aprendizagem. Quantos adultos conhecemos que não gostam de ler, nunca gostaram de ler e simplesmente não lêem e ninguém se pergunta porquê?
Para mim, a explicação é muito simples e infelizmente continua a acontecer nas escolas de hoje. As crianças não aprendem a ler porque são ensinadas a ler. Salvo raras excepções, as crianças são ensinadas a ler, com regras, com métodos, com truques, por obrigação e principalmente com livros que não têm o mínimo interesse para ninguém e muito menos para elas.
Mais uma vez afirmo com toda a certeza e convicção que nenhum ser humano aprende seja o que for se o tema não for do seu interesse e isso também se aplica aos livros. Se a leitura, ou a aprendizagem da leitura não for feita com vontade e curiosidade, então não vai acontecer. Simples! Claro que há crianças que aprendem seja em que condições for, crianças essas que já estão formatadas e resignadas às escolhas dos adultos que as acompanham no seu crescimento e que simplesmente fazem o que se lhes pede, com mais ou menos sucesso, mas sem sequer questionarem o que lhes é imposto. Mas no que diz respeito à leitura, não acredito que essas mesmas crianças venham a ser curiosas e apaixonadas por livros a não ser que, a meio do percurso se consigam libertar dessas imposições e sigam os seus gostos e a sua curiosidade. Aí sim, ainda pode haver salvação. Mas a grande maioria dos adultos que não gostam de livros e que simplesmente não lêem, foram crianças a quem nunca perguntaram o que queriam ler e se queriam ler. Aliás, como se pode estar a incentivar a leitura nas crianças se não se dá valor à descoberta dos gostos literários mas simplesmente se avalia quantas palavras conseguem ler por minuto? Ridículo, não acham?
Aqui em casa, temos exemplos de todos os tipos no que diz respeito à descoberta da leitura. Bom, eu e o pai somos apaixonados por livros desde sempre, e eu, lembro-me de na minha adolescência ter devorado todos os livros de bolso da Europa América, sem nunca ter sido obrigada a nada. Claro que, dos livros do liceu, não li nem um, apenas os resumos e por obrigação.
A Madalena aprendeu a ler ainda ensinada por uma professora e sempre gostou de o fazer até lhe imporem determinadas leituras. Nessa altura deixou simplesmente de ler, o que me fez perceber que o problema estava, não nela, mas nos livros que lhe eram sugeridos, ou mesmo impostos. Decidimos em família que a Madalena só leria os livros que quisesse ler e informámos a professora de português que assim seria. A partir desse momento a Madalena é capaz de ler um livro com 400 páginas em pouco mais de uma semana, e lê-o com sofreguidão, com paixão, com medo que o livro chegue ao fim, e vai descobrindo os seus gostos pessoais. Claro que eu sou uma intermediaria neste processo, pois conheço-a muito bem e vou descobrindo os livros que acredito que são os que ela gosta.
Temos o Lourenço que não queria sequer ouvir falar na palavra ler até ao momento em que decidimos que o quando, o como e o que leria seriam uma decisão dele. Demos-lhe liberdade total neste processo sem impor tempos ou metas. Sempre li para ele, e para todos eles, diariamente, e continuo a fazê-lo e acredito que um dia ele irá ler o seu primeiro livro e que esse será apenas o primeiro de muitos.
O pequeno Simão adora livros, já reconhece muitas letras e gosta de fazer as suas tentativas na leitura, embora ainda apenas com jogos de palavras e livros muito simples. Mas o Simão tem 4 anos.
A partir da experiência com os meus filhos, das dificuldades, das alegrias e das descobertas, elaborei uma lista de princípios que considero importantes para a aprendizagem da leitura e que nos ajudam a criar leitores apaixonados. Espero que gostem e que vos ajude no processo.
1. haver sempre livros e todo o tipo de livros espalhados pela casa. Em cima das mesas, nas prateleiras, nos quartos, nas camas e até na casa de banho e deixar as crianças explorar e escolher.
2. descobrir quais os interesses das crianças que vivem connosco e deixar à mão deles livros sobre esses mesmos temas. Não precisamos gastar fortunas em livros, existem bibliotecas.
3. ler para as crianças diariamente e se for na hora de ir para a cama, não os obrigar a deitar a cabeça na almofada. É importante que eles possam acompanhar a história, ver as ilustrações e se mostrarem interesse, deixá-los seguir a leitura através dos nossos dedos que podem acompanhar o texto.
4. deixar a criança escolher a história, sempre!!! Mesmo quando já a lemos 30 vezes e sabemos os diálogos de cor. E eles também!!!
5. nunca obrigar a criança a ler se ela o não desejar e no caso da criança já ler, respeitar a velocidade a que lê e a quantidade de texto que quer ler.
6. aprender a ouvir a criança sem interromper a leitura para a corrigir. As crianças não são parvas e percebem quando o que estão a ler não faz sentido e voltam atrás.
7. quando a criança já é autónoma na leitura podemos e devemos ajudá-la na escolha dos livros, mas sem imposições. A decisão final deverá ser sempre do leitor.
8. respeitar sempre as escolhas literárias da criança mesmo quando esta frequenta a escola e tentar fazer ver ao professor que é mais produtivo a criança ler o que quer do que não ler de todo.