Ao longo destes quase 13 anos de parentalidade e a caminho do 4º filho, sei que não sou a mesma mãe que era quando nasceu a Madalena. Tenho vindo a aprender muita coisa com eles e com os erros que vou fazendo, mas ultimamente a minha busca é mesmo a da conexão. Quero crescer com eles, conectada a eles, sem os perder pelo caminho como muitos pais se queixam. Até agora tem sido possível, tem funcionado, mas digo-vos de coração aberto que dá muito trabalho, muito mesmo. É preciso estar sempre lá, mesmo quando achamos que já não aguentamos nem mais um segundo, mesmo quando temos que olhar para dentro de nós e encontramos o pior que lá temos. É preciso aprendermos a perdoar-nos, a tirar aquele peso de cima, mas sempre, sempre, sem perder a conexão com o outro.
Como diz a Naomi Aldort no seu livro "Taking the struggle out of parenting", em muitas situações do dia a dia é mesmo preciso percebermos que o problema está em nós e naquilo que trazemos connosco ao longo da nossa experiência de vida. Aquilo que estamos a sentir em determinado momento, muitas vezes sentimentos negativos em relação à criança, nada têm a ver com ela, mas sim connosco e com o que estamos a sentir. Precisamos distanciar-nos dos nossos sentimentos, sairmos da nossa cabeça e sentirmos a criança e a sua necessidade e ao fazermos isso estamos a criar conexão com ela. Ao ouvi-la, ao percebermos a sua necessidade, ao respondermos a essa mesma necessidade com amor, com compaixão, estamos a amá-la incondicionalmente, a apoiá-la e a criar uma relação poderosa, afectuosa e baseada em amor.
Ontem fui à praia com o Lourenço e o Simão. Saímos sem saco da praia, sem toalhas, sem fatos de banho, sem água, sem comida, porque achávamos que íamos só um bocadinho e que o tempo nem estava grande coisa. Atravessámos o areal da praia da Adraga, arranjámos um cantinho para ficarmos e eu a preparar-me para descansar um pouco com o meu livro. Precisava mesmo daquele momento. Estava cansada, tão cansada!! Os rapazes acharam que estava calor para irem ao banho, mas não tinham fatos de banho. O Simão despiu-se todo e lá foi direito à água, mas o Lourenço ficou sentado ao meu lado a dizer-me que não queria ir todo nu, que queria ir a casa buscar os calções de banho. Disse-lhe que não me apetecia sair dali, que estava cansada, que só queria descansar um pouco e que se fosse a casa já não voltava. Ele respondeu quase a chorar que eu estava a ser egoísta, que noutras situações já tínhamos voltado a casa e que se fosse o meu fato de banho que eu quereria voltar. Mas eu não queria mesmo sair dali. Tinha que arrastar a minha gigantesca barriga pelo areal fora quando apenas me apetecia deitar-me e descansar. Ele continuou ao meu lado a queixar-se, a choramingar, e aquele barulho no meu cérebro a começar a irritar-me e eu a sentir a zanga a crescer dentro de mim. E quando já estava prestes a explodir e a dar-lhe um grito, lembrei-me da Naomi Aldort e do livro dela que tinha na mão. Então parei, respirei fundo, olhei o Lourenço nos olhos, saí da minha cabeça, distanciei-me de tudo o que estava a sentir e centrei-me nele e na sua necessidade. Fiquei ali uns segundos apenas a olhar para ele e a tentar perceber o que ele estaria a sentir, a tentar entrar nele e ele a perguntar-me porque não falava. Dentro da minha cabeça imaginei-me no corpo dele, na praia, pronto para um mergulho, sem fato de banho e cheio de vergonha de se despir à frente das outras pessoas. Imaginei-me no lugar do Lourenço, a ficar a torrar ao sol de calças vestidas apenas porque a minha mãe não me ajudava naquela situação que só ela tinha poder para resolver. Imaginei a tristeza e a frustração que ele estaria a sentir naquele momento quando a pessoa que ele mais ama no mundo, não o estava a respeitar nem a ajudar. E respondi-lhe que íamos a casa buscar o fato de banho. O Simão colaborou, vestiu-se, eu voltei a arrastar-me e à minha barriga pelo areal, fomos buscar o fato de banho, regressámos, e passámos uma maravilhosa tarde de praia todos juntos a brincar. Tive tempo para descansar e ainda brinquei com eles à beira mar.
Um acto de amor tão simples que pode tornar-se num momento de desconexão marcante e frustrante na vida dos nossos filhos. Se tivesse sido há 12 ou mesmo há 5 anos atrás, teria ficado na praia e diria que o Lourenço tinha feito uma birra por causa da porcaria de um fato de banho, que podia muito bem ter ido todo nu tomar banho e que ninguém iria reparar, mas como disse, não sou a mesma pessoa que era nessa altura. Felizmente! Neste momento sei que fiz bem, que quero que ele se recorde daquele dia de praia pelo bom que foi e não porque lhe neguei uma necessidade por causa de outra que era minha e só minha.
Obrigada Naomi!