Aquele momento em que a vozinha vinda da casa de banho não diz, "já fiz cocó" mas sim, "já me lavei... sozinho", e o mundo gela e para à nossa volta e sentimos aquele aperto no peito e sorrimos em silêncio para aquela cara feliz que nos olha com expressão de vitória enquanto nós gritamos por dentro "nãaaaaaaaooooo"!!!!
Para eles são marcos no crescimento, mas para nós são facas espetadas no coração. Já passei por isto, já devia saber como é, mas achamos sempre que o próximo vai estar ali, dependente de nós durante mais um bocadinho. E depois, quando isto acontece, o mundo desaba aos nossos pés.
Não, não é o fim do mundo, é até algo muito positivo, é autonomia, é independência, é crescimento, mas um coração de mãe gosta de lavar rabos e dentes e cortar unhas e deitar na cama deles até adormecerem e ler histórias até à exaustão.
Lembro-me da primeira vez que a Madalena não me chamou para lhe lavar o cabelo, e da primeira vez que o Lourenço não precisou que lhe desse banho, e agora, agora o pequeno Simão gritou lá de dentro que já se lava sozinho depois de sair da sanita. E ainda nem lhe caíram os dentes!!!! Bem sei que ainda não é definitivo, mas é o princípio do fim do nosso ritual.
Bem sei que precisarão de mim para outras coisas também importantes, que chamarão sempre por mim para muita coisa e isso faz-me pensar que devo aproveitar esses momentos em vez de reclamar. Mãe faz-me uma torrada, mãe acende a luz da casa de banho, mãe deita-te aqui comigo, mãe prepara-me o biberão, mãe corta-me as unhas, mãe o que significa esta palavra em inglês, mãe leva-me ao cinema, mãe ajuda-me aqui na matemática, mãe recorta-me este desenho, mãe lê-me esta história, e tantas outras coisas.
Neste ano que aí vem, prometo a mim mesma que darei mais valor a estes pedidos, mesmo quando estou cansada. E desejo poder lavar o rabo do Simão durante mais uns tempos. Aquele gesto carinhoso de se agarrar à minha perna enquanto eu o lavo no bidé e trocamos umas palavras... ficará para sempre na minha memória. Por muitas coisas importantes que vivamos juntos, são estes pequenos gestos, simples, que fazem a vida valer a pena.