sexta-feira, 1 de maio de 2015

Attachment ou Conexão




Ao longo destes quase 13 anos de parentalidade e a caminho do 4º filho, sei que não sou a mesma mãe que era quando nasceu a Madalena. Tenho vindo a aprender muita coisa com eles e com os erros que vou fazendo, mas ultimamente a minha busca é mesmo a da conexão. Quero crescer com eles, conectada a eles, sem os perder pelo caminho como muitos pais se queixam. Até agora tem sido possível, tem funcionado, mas digo-vos de coração aberto que dá muito trabalho, muito mesmo. É preciso estar sempre lá, mesmo quando achamos que já não aguentamos nem mais um segundo, mesmo quando temos que olhar para dentro de nós e encontramos o pior que lá temos. É preciso aprendermos a perdoar-nos, a tirar aquele peso de cima, mas sempre, sempre, sem perder a conexão com o outro.

Como diz a Naomi Aldort no seu livro "Taking the struggle out of parenting", em muitas situações do dia a dia é mesmo preciso percebermos que o problema está em nós e naquilo que trazemos connosco ao longo da nossa experiência de vida. Aquilo que estamos a sentir em determinado momento, muitas vezes sentimentos negativos em relação à criança, nada têm a ver com ela, mas sim connosco e com o que estamos a sentir. Precisamos distanciar-nos dos nossos sentimentos, sairmos da nossa cabeça e sentirmos a criança e a sua necessidade e ao fazermos isso estamos a criar conexão com ela. Ao ouvi-la, ao percebermos a sua necessidade, ao respondermos a essa mesma necessidade com amor, com compaixão, estamos a amá-la incondicionalmente, a apoiá-la e a criar uma relação poderosa, afectuosa e baseada em amor.

Ontem fui à praia com o Lourenço e o Simão. Saímos sem saco da praia, sem toalhas, sem fatos de banho, sem água, sem comida, porque achávamos que íamos só um bocadinho e que o tempo nem estava grande coisa. Atravessámos o areal da praia da Adraga, arranjámos um cantinho para ficarmos e eu a preparar-me para descansar um pouco com o meu livro. Precisava mesmo daquele momento. Estava cansada, tão cansada!! Os rapazes acharam que estava calor para irem ao banho, mas não tinham fatos de banho. O Simão despiu-se todo e lá foi direito à água, mas o Lourenço ficou sentado ao meu lado a dizer-me que não queria ir todo nu, que queria ir a casa buscar os calções de banho. Disse-lhe que não me apetecia sair dali, que estava cansada, que só queria descansar um pouco e que se fosse a casa já não voltava. Ele respondeu quase a chorar que eu estava a ser egoísta, que noutras situações já tínhamos voltado a casa e que se fosse o meu fato de banho que eu quereria voltar. Mas eu não queria mesmo sair dali. Tinha que arrastar a minha gigantesca barriga pelo areal fora quando apenas me apetecia deitar-me e descansar. Ele continuou ao meu lado a queixar-se, a choramingar, e aquele barulho no meu cérebro a começar a irritar-me e eu a sentir a zanga a crescer dentro de mim. E quando já estava prestes a explodir e a dar-lhe um grito, lembrei-me da Naomi Aldort e do livro dela que tinha na mão. Então parei, respirei fundo, olhei o Lourenço nos olhos, saí da minha cabeça, distanciei-me de tudo o que estava a sentir e centrei-me nele e na sua necessidade. Fiquei ali uns segundos apenas a olhar para ele e a tentar perceber o que ele estaria a sentir, a tentar entrar nele e ele a perguntar-me porque não falava. Dentro da minha cabeça imaginei-me no corpo dele, na praia, pronto para um mergulho, sem fato de banho e cheio de vergonha de se despir à frente das outras pessoas. Imaginei-me no lugar do Lourenço, a ficar a torrar ao sol de calças vestidas apenas porque a minha mãe não me ajudava naquela situação que só ela tinha poder para resolver. Imaginei a tristeza e a frustração que ele estaria a sentir naquele momento quando a pessoa que ele mais ama no mundo, não o estava a respeitar nem a ajudar. E respondi-lhe que íamos a casa buscar o fato de banho. O Simão colaborou, vestiu-se, eu voltei a arrastar-me e à minha barriga pelo areal, fomos buscar o fato de banho, regressámos, e passámos uma maravilhosa tarde de praia todos juntos a brincar. Tive tempo para descansar e ainda brinquei com eles à beira mar.

Um acto de amor tão simples que pode tornar-se num momento de desconexão marcante e frustrante na vida dos nossos filhos. Se tivesse sido há 12 ou mesmo há 5 anos atrás, teria ficado na praia e diria que o Lourenço tinha feito uma birra por causa da porcaria de um fato de banho, que podia muito bem ter ido todo nu tomar banho e que ninguém iria reparar, mas como disse, não sou a mesma pessoa que era nessa altura. Felizmente! Neste momento sei que fiz bem, que quero que ele se recorde daquele dia de praia pelo bom que foi e não porque lhe neguei uma necessidade por causa de outra que era minha e só minha. 
Obrigada Naomi!

10 comentários:

  1. Adorei este relato e a grande lição que daqui se tira. Um acto de amor sem dúvida.
    Costumo fazer esse exercício de nos colocarmos na pele da criança e faz toda a diferença.
    Muitos Parabéns pelo bebé a caminho, felicidades!
    Beijinhos do Paraíso *-*

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  2. 😊 Tu és uma inspiração ! Obrigada por partilhares as aprendizagens que vais fazendo! Bjo

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  3. Adorei ler o relato!
    Fez me refletir a ajudar-me-á certamente a ver determinadas situações com outros olhos, no futuro.
    Grata pela partilha. E parabéns pelo blogue!
    Tenho uma filha bebé, sou professora de 1º ciclo e ainda não perdi a esperança de também um dia conseguir optar pelo ensino doméstico...

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    1. <3 Se é o que queres, conseguirás certamente!! Boa sorte.

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  4. Olá Raquel,

    Ando afastada, com mudanças interiores, por vezes nem por mim entendidas. Questões, dúvidas, falta de muitas certezas. Mas hoje precisei de vir aqui, ver o que tens escrito. Adorei o que escreveste. Hoje precisava de ler isto. Hoje fez a diferença. Obrigada Raquel.

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    1. Francisca, ainda bem que aqui vens ler-me. Isto não faria sentido de outra forma. Tenho andado longe daqui por causa do bebé Matias, mas vou regressar em breve.
      Um beijinho para ti que me inspiras com as tuas lindas mandalas!!!

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  5. Obrigada, muito obrigada! Estava mesmo a precisar de ler este seu "post"... preciso tanto disso. Ontem discuti com o meu filho (que tem 6 anos!!), porque faz "fitas", porque é exigente... porque eu estava cansada, com preocupações e sem paciência... gritei com ele... depois, para me acalmar fui fazer coisas em casa, mas irritada e zangada...
    No fim fui pedir desculpa pela forma como falei com ele, disse que o amava acima de tudo. Não aguentei e acabei por chorar ao pé dele (bem que tentei, mas as lágrimas fizeram questão de escorrer pela minha cara). Limpou-me as lágrimas e abraçou-me, eu disse-lhe que só queria que ele fosse feliz ao que respondeu "eu sou feliz mãe"... e demos um abraço enorme.
    Preciso de estar em contacto com ele e com as necessidades dele... pôr as minhas "coisas" de lado.
    Desculpe o desabafo e, mais uma vez, obrigada.
    Susana B

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    1. Susana, fiquei comovida com as tuas palavras. Nós não somos perfeitas e nunca seremos. Quantas vezes grito com eles e depois me arrependo... É bom que tenhamos consciência de que não é a forma certa de funcionar, mas faremos sempre disparates. Um dia de cada vez a caminho da conexão e acredito que se tivermos consciência disto estamos no bom caminho.
      Um abraço

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