Com o tempo acho que contagiei os meus filhos com o vício dos filmes de animação japoneses. Andam sempre à procura de algum que ainda não tenhamos visto e no meio de muitos que até nem interessam assim tanto, descobrimos verdadeiras obras de arte que nos marcam e que vemos vezes sem conta.
Um desses filmes chama-se wolf children e lembrei-me dele porque tem a ver com aquilo que queria aqui falar hoje, com as escolhas que os nossos filhos fazem ao longo das suas vidas e que nem sempre são aquelas que gostaríamos que fizessem, mas que ainda assim nos deveriam deixar felizes pelo simples facto de mostrarem que eles têm capacidade de as fazer.
Quando falo de escolhas, falo de coisas do dia a dia que nós adultos temos dificuldade em aceitar, mas que para eles são importantes, lhes constroem a autoestima e são um treino para futuras escolhas mais complexas e importantes nas suas vidas. É como treinar com pesos pequenos para que um dia consigam treinar com pesos bem grandes. Porque crianças que aprendam a fazer escolhas em pequenas, mesmo errando, serão capazes de fazer escolhas mais complexas quando forem adultas.
Para nós, enquanto família em Ensino Doméstico, fez parte de todo o processo aprender a aceitar as escolhas dos nossos filhos tentando não os controlar. Esta noção que temos de que podemos controlar tudo o que eles fazem é uma ilusão que só nos leva a guerras e desilusões. E a desilusão só acontece porque criámos expectativas, porque estamos à espera que eles sejam algo que não são mas que nós imaginámos que fossem ou queríamos que fossem.
Para nós, tomarmos consciência de que ao tentarmos controlar os nossos filhos só estávamos a distanciar-nos deles, fez-nos perceber que seriamos todos muito mais felizes se lhes déssemos hipótese de escolher nas coisas que lhes dizem respeito. E rapidamente chegámos a um ponto em que a nossa convivência é pacífica, em que nos entendemos e nos sentimos ligados, conseguindo comunicar sem segredos, podendo falar de tudo porque respeitamos as opiniões uns dos outros.
Coisas como a roupa que querem vestir, se querem andar calçados ou descalços, o que comem e quando comem, se bebem água, se cortam o cabelo e como o cortam, se querem tomar banho, se querem ou não dormir, se querem ir passar uns dias a casa dos avós, se querem dar beijinhos às outras pessoas, como gastam o seu dinheiro, são decisões inteiramente deles.
Claro que ao crescerem as decisões serão também elas mais complexas e algumas podem ir completamente contra aquilo em que acreditamos ou o caminho que queremos fazer, mas não deixam de ser as suas escolhas. Quando a nossa filha Madalena decidiu ir para a escola, foi uma decisão difícil para mim, talvez também para o pai, mas mais para mim. Queria dar-lhe essa liberdade, mas ao mesmo tempo não queria que ela fizesse essa escolha. Vejo todos os dias que a escola não é um lugar onde se aprenda alguma coisa de útil, onde se conheçam muitas pessoas interessantes, mas tive que aprender a viver com essa sua decisão. Se foi esse o caminho que escolheu e se encontrou o que procurava, então só posso ficar feliz por ela. Confesso que não tem sido fácil para mim aceitar isto, tem sido uma luta interior diária, há dias em que quase parece que desisti dela porque deixei de lutar por aquilo que acreditava ser o melhor para ela, mas depois penso que é o seu caminho e não o meu. Só poderei encontrar paz na minha relação com ela se aceitar que ela é capaz de tomar decisões sozinha, de escolher o seu caminho. E os nossos filhos serão sempre perfeitos se aprendermos a não ter qualquer tipo de expectativas em relação a eles, se aprendermos a aceitá-los exactamente como eles são. E não digo que seja fácil, para mim não foi nem está a ser, mas se quiser escolher o amor e o respeito dos meus filhos terei que ser capaz de os deixar viver as suas vidas. É um trabalho que terei que fazer todos os dias, mas acredito que vou conseguir lá chegar.
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