Durante estes dias em que as crianças foram passar uns dias com os avós fiquei liberta para poder, finalmente, ler a pilha de livros que tenho na minha mesa de cabeceira. Embora acredite que a experiência do dia a dia a educar 3 crianças, brevemente 4, me ensina muita coisa, tenho sempre vontade de ler mais sobre aquilo que acredito ser a educação livre. É como se procurasse uma espécie de confirmação daquilo que venho constatando ao longo destes 3 anos em Ensino Doméstico e muitas vezes é apenas uma busca de inspiração.
Neste momento estou embrenhada no livro "Dificuldades em Aprender" do John Holt, cujo título em português é, quanto a mim, uma péssima tradução do original "How Children Fail". Digo má tradução porque o livro fala justamente daquilo que faz com que as crianças falhem a determinada altura do seu percurso escolar e essa falha não tem nada a ver com dificuldades em aprender, mas sim, na forma como os adultos, erradamente, as tentam ensinar. A culpa das dificuldades das crianças é nossa, por muito que nos custe aceitar tal facto. As crianças falham, claro, como todo o ser humano de resto, mas as dificuldades, ou aquilo a que nós educadores chamamos de dificuldades, são criadas por nós quando achamos que temos que lhes ensinar seja o que for. E muitas vezes achamos que temos que lhes ensinar determinada coisa apenas porque determinámos que lhes vai fazer falta e nunca esperamos que eles sintam essa necessidade. Nenhuma criança, e quanto a mim, nenhum ser humano, aprende algo que não seja o que quer aprender. Por muito que despejemos conteúdos e conceitos na cabeça de alguém, esse alguém só verá neles utilidade se for isso que necessita naquele momento. Por isso, se queremos ver as crianças no seu melhor, curiosas, sonhadoras, devíamos ir ao encontro das suas necessidades, dos seus interesses, dos seus sonhos.
Neste livro, a certa altura, o autor dá-nos uma lista de 4 coisas que devemos ter em mente quando acompanhamos as crianças no seu dia a dia de desenvolvimento das suas capacidades e conhecimentos:
1: as crianças não precisam de ser ensinadas para aprenderem e aprenderão mais e provavelmente melhor sem serem ensinadas.
2: as crianças estão profundamente interessadas no mundo dos adultos e no que nele se passa.
3: as crianças aprendem melhor quando as coisas que aprendem estão integradas num contexto de vida real e fazem parte do que George Dennison, no seu livro The Lives of Children, chamou "a experiência contínua"
4: as crianças aprendem melhor quando a sua aprendizagem está relacionada com um objetivo imediato e sério.
É nisto que eu acredito com toda a convicção. Se é fácil por em prática quando temos metas curriculares para cumprir e datas de exames a aproximarem-se? Não! Mas não é para ser fácil, é para ser apaixonante, é para ser verdadeiro, e isso depende apenas de nós pais e educadores, se queremos esperar pelas crianças e vê-las crescer saudáveis e felizes, ou se queremos o sucesso imediato a qualquer custo.