Porque apesar de parecer que os nossos dias são sempre organizados e tranquilos, que tudo corre bem e que eu estou sempre com um sorriso, a verdade é que normalmente são um verdadeiro circo e que a nossa casa parece um campo de batalha.
Viver com 4 crianças em permanência absoluta, significa passar o dia a fazer comida e a lavar loiça, ou, em alternativa, a preparar piqueniques muitas vezes com o bebé ao colo, para no final do dia lavar a loiça do jantar mais a loiça do piquenique. E para fazer comida é preciso ir às compras... muitas compras para barriguinhas esfomeadas....
Aqui em casa todas as crianças, incluindo o bebé, assim que acordam de manhã querem apanhar ar. Ainda eu não recuperei de mais uma noite aos trambolhões, porque o bebé come mais durante a noite do que durante o dia em que anda muito atarefado a tentar fazer coisas de bebé atómico, e já estão todos preparados para o passeio.
Mas para sair de casa com 3 ou 4 crianças é preciso um saco de sobrevivência cheio de comida, como se estivéssemos em fuga em pleno apocalipse. E quem prepara os mantimentos é a mãe, muitas vezes enquanto faz números de circo com facas, fruta e bebé à mistura.
No momento de sair de casa, depois de uma hora na cozinha, percebemos finalmente que aquele cheiro estranho afinal vem do bebé que transborda de cocó desde as pernas até ao pescoço. Mais meia hora para dar banho ao bebé e mudar de roupa.
Finalmente saímos e vamos passear. Se formos de carro é o berreiro do bebé até ao destino, se formos a pé, adormece ao colo, claro, assim que saímos a porta de casa. E os outros querem comer assim que chegam à rua como se ainda não tivessem bebido um batido, comido umas torradas e mais uma papa de aveia. E com isto já são 11 da manhã.
Durante o dia, se ficamos por casa, tentamos ler histórias, fazer trabalhos manuais, jogar jogos de tabuleiro enquanto o bebé se dedica à organização das prateleiras dos livros, ou come os restos do jantar da noite anterior misturados com pelo de gato e umas peças de lego.
Depois é preciso tomar aquela decisão quando vamos estender a roupa. Levamos primeiro o bebé para o quintal ou levamos primeiro a roupa e depois voltamos para vir buscar o bebé? Ou levamos os dois ao mesmo tempo? E estendemos a roupa com o bebé ao colo ou ele até está bem disposto e fica a brincar ao nosso lado com os irmãos que lhe fazem razias à cabeça com a espada de madeira e a lança de homem primitivo?
E enquanto faço as camas? Deixo-o dentro da cama de grades, que só é usada em situações de emergência em que ninguém pode tomar conta do bebé, sabendo que vai começar a berrar, ou deixo-o no chão a pendurar-se nas minhas pernas e a tentar subir por mim acima ou a por-se em pé sozinho enquanto entala os dedos nas gavetas da cómoda? Ou desisto e faço as camas com ele ao colo? Ou desisto e não faço as camas?
Ao final do dia, é preciso fazer o jantar. Mais uma horita na cozinha a tropeçar no bebé que vai atirando laranjas para debaixo do armário e petiscando uns biscoitos de gato como aperitivo. A alternativa é fazer o jantar com o bebé ao colo ao mesmo tempo que ele deita a mão a tudo, incluindo facas, garrafas de azeite, loiça no escorredor e rolo de papel de cozinha. Ao mesmo tempo que a restante criançada grita esfomeada por comida e se atira ao pão seco como se não fosse haver mais nada para comer.
Se sobreviver a esta hora na cozinha, ainda posso ter a sorte de nem conseguir jantar. Entre bebé a pedir comida, o Simão que quer companhia para fazer cocó, todos a quererem contar as aventuras do dia gritando por cima uns dos outros para se fazerem ouvir, lá vou conseguindo comer qualquer coisa e às vezes, com muita sorte, eu e o pai até conseguimos trocar umas palavras um com o outro.
E depois vem a melhor parte: conseguir que vão todos para a cama. Mesmo com a perspetiva de terem uma história, fazem tudo o que podem para ficarem a pé, connosco, mais cinco minutos e mais cinco e mais cinco. Não temos horários rígidos para os rapazes se deitarem, mas pelo menos que fiquem no quarto deles para que nós, casal, possamos estar uns momentos a sós. Coisa impossível!!!
Mesmo a Madalena, entre ler o seu livro, lavar os dentes econseguir chegar à cama, entra 20 vezes no nosso quarto com questões existenciais e histórias para contar.
E o bebé, mesmo quando está exausto, de barriga cheia e rabo lavado, pode aguentar-se de holofotes acesos até lá para as dez da noite. Isto nos dias bons! Muitas vezes adormecemos, eu e o pai, antes dele. Já pensámos em amarrá-lo a nós para termos a certeza de que não cai da cama se for o vencedor da prova de quem aguenta mais tempo acordado.
Há dias alucinantes. Quase todos! Em que parece que vivo num campo de batalha e cujo único objetivo é chegar viva ao fim do dia e sem ter atirado nenhuma criança pela janela.
E depois de mais uma noite aos trambolhões, começa tudo de novo! Querem mais emoção do que isto?